segunda-feira, 3 de março de 2014

Porque estudar Arte? E como entendê-la? (PARTE 1)



Julian Beever.
fonte: http://www.julianbeever.net/

A arte corresponde a uma necessidade fundamental do homem, logo admitimos que esta é um produto culturalmente construído. Ao admitirmos tal posicionamento em relação à produção artística, a definimos como uma produção humana, condicionada por disposições históricas e sociais, tendo em vista que os produtores artísticos são seres históricos.

Diego Rivera, Palácio Nacional, cidade do México.
fonte: https://www.bluffton.edu/~sullivanm/mexico/mexicocity/rivera/muralsintro.html

Mas como notar a presença da arte em nosso cotidiano?
Ela pode ser reconhecida sempre que despertar a ideia de contemplação, o sentimento daquilo que se convencionou chamar de belo.
 A definição deste conceito (belo) é muito variada, o que o torna flexível, tendo em vista que tal quais os seus produtores, o conceito de belo varia de acordo com o momento histórico, geográfico, econômico e cultural da sociedade ou grupo social estudado.

Peter Paul Rubens
Alegoria sobre as bênçãos de paz 1629-1630 (180 Kb); Óleo sobre tela, 203,5 x 298 cm (80 1/8 x 117 1/4 in); National Gallery, Londres
Fonte: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/rubens/



Giorgione, Vênus Adormecida, 1510.
fonte:http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/internacional/nu04.html 


Para uma sistematização e conceitualização da arte enquanto um produto histórico-cultural, registrando-a como um trabalho humano, podemos abordar o trabalho de determinados artistas ou grupos sociais, a partir de três aspectos inerentes a qualquer produção artística: assunto, expressão e a forma.
Quando abordado estes aspectos, podemos dizer que estamos em uma perspectiva histórico-antropológica, ou seja, quando analisamos, além dos elementos formais que estruturam a imagem, os seus aspectos de produção que são limitados pelo contexto histórico, geográfico, político, tecnológico, mercadológico, cultural e religioso. 
Nesta perspectiva, como identificar o assunto, a expressão e a forma das manifestações artísticas e, contextualizá-las em seus respectivos contextos históricos?
Para iniciarmos o entendimento da arte enquanto produto histórico, social e cultural, abordaremos cada elemento separadamente. O assunto, ou conteúdo é a representação de algum a coisa, ou seja, o modo de ver do artista a respeito de um tema (seja uma passagem literária, uma representação paisagística, uma fotografia sobre um evento, um retrato de um nobre, um cardeal, um poema, uma novela, uma peça teatral, etc.). 


Ilia Repin, Os barqueiros do Rio Volga, 1870-73.
Fonte: http://www.dw.de/popups/popup_gallery/pt_ausstellung.html



Di Cavalcanti, Colonos, 1945, 60x90 cm
fonte:   http://www.dicavalcanti.com.br/dec40.htm

Por expressão, a interpretação do assunto ou do tema, e está de forma intrínseca relacionada a forma de se expressar do artista, assim como o seu núcleo social (classe, casta, família) e histórico. Neste sentido ao escolher o assunto o artista julga o que lhe parece ser importante ou esteticamente interessante. Um incidente da vida cotidiana pode parecer divertido a um artista, trágico a outro; um terceiro encontrará nele um pretexto para julgar a sociedade. Esta grande variedade de reações evidencia a personalidade de cada artista.  


Egon Schiele, Mulher sentada com a perna esquerda dobrada, 1917.
Fonte: http://www.doc.ic.ac.uk/~svb/Schiele/


Lucian Freud, retrato nu, 1972-3, óleo sobre tela, 61x61 cm.
fonte: http://www.tate.org.uk/art/artworks/freud-naked-portrait-t01972


forma constitui organização de um objeto artístico enquanto elemento comunicativo, e implica diversos fatores, tais como composição, proporção e escala, o que torna impossível separar a forma dos dois primeiros elementos de análise.


Georges Braque, Instrumentos Musicais [Paris, outono 1908] 
Óleo sobre tela, 50 x 61 cm, Coleção particular 
fonte: http://www.artchive.com/artchive/B/braque/musical.jpg.html



Nuno Ramos, Sem título, 1988, 250x220 cm, vaselina, parafina, tecidos e outros materiais sobre madeira.
Coleção de Arte contemporânea da USP.
Fonte: http://www.itaucultural.org.br/

Estes três elementos – assunto, expressão e forma – encontram-se, portanto, em toda produção artística. Podendo o seu produtor dar prioridade apenas a um, ou associa-lo, de acordo com a finalidade que pretende; a sua escolha pode ser determinada por fatores históricos (concepção estética de sua época). No que se refere ao conteúdo pode acontecer que o artista trate de vários assuntos simultaneamente, como as intrigas principais e as intrigas secundárias em um romance, em uma novela televisiva, mas geralmente predominando um tema central.

Referenciais bibliográficos

GOMBRICH, E. H. Sobre a interpretação da obra de arte: o quê, o porquê e o como? Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 12, n. 13, p. 11-26, dez. 2005. Disponível em:  
http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070514090829.pdf

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1993.

GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo sobre a psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 1995.