domingo, 15 de março de 2015

Adaptação de Liberdade Liberdade

Liberdade Liberdade é uma peça teatral escrita por Millôr Fernandes e Flávio Rangel. O texto é composto por fragmentos de histórias e reflexões de diversos momentos da História que temo como fio narrativo a ideia de LIBERDADE.
Escrito em um período de Ditadura Civil Militar recém instaurada, a peça que data do ano de 1965, foi escrita para o Show Opinião.
O presente vídeo foi desenvolvido por alunos do segundo ano do Ensino Médio, como atividade complementar dos estudos teatrais do segundo bimestre.

O vídeo pode ser acessado no YOUTUBE, no link:



https://www.youtube.com/watch?v=Bszv_uSi6jk&feature=youtu.be 




Leia abaixo as colocações de Millôr Fernandes, Flávio Rangel e Paulo Autran sobre Liberdade Liberdade:


"Liberdade, Liberdade" estreou no dia 21 de abril de 1965, no Rio de Janeiro, numa produção do Grupo Opinião e do Teatro de Arena de São Paulo.
Os papéis foram representados por Paulo Autran , Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho com a participação especial de Tereza Rachel.

publicado em: http://www2.uol.com.br/millor/teatro/05_liberdade.htm 

comentários
A LIBERDADE DE MILLÔR FERNANDES

Também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto. (Epígrafe para o livro Um Elefante no Caos.)
Aceitei, de Flávio Rangel, o convite para escrever com ele o presente espetáculo, por dois motivos: 1º) Porque sou um escritor profissional. 2º) Porque acho esse negócio de liberdade muito bacana. Não tenho procurado outra coisa na vida senão ser livre. Livre das pressões terríveis da vida econômica, livre das pressões terríveis dos conflitos humanos, livre para o exercício total da vida física e mental, livre das idéias feitas e mastigadas. Tenho, como Shaw, uma insopitável desconfiança de qualquer idéia que já venha sendo proclamada por mais de dez anos. Mas paremos por aqui. Isso poderia se alongar por várias laudas e terminar em tratado que ninguém leria. Tentamos fazer um espetáculo que servisse à hora presente, dominada, no Brasil, por uma mentalidade que, sejam quais sejam as suas qualidades ou boas intenções, é nitidamente borocochô. E cuja palavra de ordem parece ser retroagir, retroagir, retroagir. E como não queremos retroagir senão para a frente, mandamos aqui a nossa modesta brasa, numa forma que, para ser válida e atingir seus objetivos espetaculares, tinha que ser teatralmente atraente. Se conseguimos ou não o nosso objetivo deverão dizê-lo as poltronas cheias (ou vazias) do teatro. Fizemos, em suma, uma liberdade como podia concebê-la a modéstia e as limitações de nossas mentalidades - minha e de Flávio Rangel - sottosviluppatas. Mas também vocês não iam querer um liberdadão enorme, feito aquela que está em Nova Iorque. A gente tem que começar por baixo. Como os Estados Unidos, por exemplo: começou com um país só.
A LIBERDADE DE FLÁVIO RANGEL
Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. - Cecília Meirelles, in Romanceiro da Inconfidência.
Uma seleção de textos não é uma idéia nova no teatro moderno. É nova aqui no Brasil, onde tudo é novo, inclusive a noção de liberdade. Quando Millôr e eu resolvemos selecionar uma série de textos sobre o tema, tivemos a presunção de gravar seu som no coração dos nossos ouvintes. É evidente que existe um motivo principal para este espetáculo no momento em que vive nosso País. Liberdade, Liberdade pretende reclamar, denunciar, protestar - mas sobretudo alertar. Nas páginas finais de Les Mots, Jean-Paul Sartre diz que durante muito tempo tomou sua pena por uma espada, e que agora conhece sua impotência - mas apesar de tudo escreve livros. Eu também tenho minhas dúvidas que um palco seja uma trincheira - mas faço o que posso.
A LIBERDADE DE PAULO AUTRAN
Tenho quinze anos de teatro. Só há pouco tempo atingi uma posição profissional que me permite escolher os textos que vou representar. Poder interpretar num mesmo espetáculo, farsa, drama, comédia, tragédia, textos íntimos, épicos, românticos, é tarefa com que sonha qualquer ator, principalmente quando os autores se chamam Shakespeare, Beaumarchais, Büchner, Brecht, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Sócrates... A responsabilidade é pesada, o trabalho é árduo; mas o prazer, a satisfação de viver palavras tão oportunamente concatenadas, ou tão certas, ou tão belas, compensa tudo. Se o público compreendê-las, assimilá-las e amá-las, teremos lucrado nós, eles, e o País também. Se isso não acontecer a culpa será principalmente minha, mas pelo menos guardarei dentro de mim a consoladora idéia de que tentei. Por isso escolhi a Liberdade...